tag:blogger.com,1999:blog-14685522274950960532024-02-07T02:16:04.068-03:00Autópsia SublimeEduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.comBlogger9125tag:blogger.com,1999:blog-1468552227495096053.post-34229588386011301352010-08-01T13:22:00.000-03:002010-08-01T13:22:25.417-03:00Estações da Vida IV<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipYl7HXGobp4jhyJrJb_7U9fZ7xuoLyYR_b5aEFaKD8EYH-FhIvBxzcBo1q8l6e5Kk57EaOjJcuqVYwgwaEsCNHvSEyKtCQsfvHA3Qwppgl-QNNRPeYZ4M1SElLx4j6XnqFUK0x_hU1FQ/s1600/winter.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipYl7HXGobp4jhyJrJb_7U9fZ7xuoLyYR_b5aEFaKD8EYH-FhIvBxzcBo1q8l6e5Kk57EaOjJcuqVYwgwaEsCNHvSEyKtCQsfvHA3Qwppgl-QNNRPeYZ4M1SElLx4j6XnqFUK0x_hU1FQ/s320/winter.jpg" width="320" /></a></div><div style="font-family: "Courier New",Courier,monospace;"><b><br />
</b></div><div align="LEFT" class="western" style="font-family: "Courier New",Courier,monospace; margin-bottom: 0cm;"><b><span style="font-size: large;">INVERNO/HIBERNAÇÃO:</span></b><br />
<br />
</div><div class="western" style="font-family: "Courier New",Courier,monospace; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: small;">É engraçado. Sempre ouvi que o animal mais próximo à raça humana era o primata. Bem, pelo que eu saiba, quem hiberna são os ursos e foi isso que eu fiz por três meses. Eu virei um urso por todo o inverno e hibernei. Foi como se eu realmente dormisse todo esse tempo. Eu vivia o meu pesadelo. Perdera tudo que mais quis, por querer demais.</span></span></div><div class="western" style="font-family: "Courier New",Courier,monospace; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: small;">Einstein disse que tudo é relativo. O exemplo mais comum que é dado na escola é a duração das aulas. As aulas mais legais parecem ser mais curtíssimas e as de geografia sempre são longas.</span></div><div class="western" style="font-family: "Courier New",Courier,monospace; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: small;"> Se não me engano, ele também falou sobre memória seletiva; ou ele tinha isso. Não lembro.</span></div><div class="western" style="font-family: "Courier New",Courier,monospace; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: small;">Unindo relatividade do tempo e memória seletiva, fala-se do meu inverno. Falando a verdade, eu só sei que foram três meses porque acordei e as flores estavam desabrochando. Poderiam ter sido dias, horas, minutos. Aí está a diferença. Um minuto vivido loucamente pode mudar mais a vida de uma pessoa do que um ano inteiro sob o estado em que me encontrava nessa época.</span><br />
<span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: small;">A letargia dominou-me de tal forma, que perdi a noção de tempo e perdi todas as lembranças desse período. Acho que minha mente queria me preservar de uma possível dor ao me lembrar do sofrimento pelo qual passei e, por tanto, simplesmente não guardou nada. </span> </div><div class="western" style="font-family: "Courier New",Courier,monospace; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> </span> </div><div class="western" style="font-family: "Courier New",Courier,monospace; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"> Resumindo, como é característico dessa estação, só que em outros lugares - talvez a Sibéria -, minha lembrança do inverno é um enorme branco.</span></div>Eduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1468552227495096053.post-59264574660833407462010-07-25T18:44:00.000-03:002010-07-25T18:44:50.731-03:00Estações da Vida III<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTqEM7b7jYnxf5BbMafnppZEHcaThmbumsSUb9XahhfQ6RTOT16TAsuGfKRtb-3RDwwokF9PFWjBq58i3yi3T0Mgo4Lw1SjKaU0DpmTzW51P-n9wf5MggBxlV7fKYQYd2nziYkCv0fI6A/s1600/vanishing.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTqEM7b7jYnxf5BbMafnppZEHcaThmbumsSUb9XahhfQ6RTOT16TAsuGfKRtb-3RDwwokF9PFWjBq58i3yi3T0Mgo4Lw1SjKaU0DpmTzW51P-n9wf5MggBxlV7fKYQYd2nziYkCv0fI6A/s320/vanishing.jpg" width="213" /></a></div><br />
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<span style="font-size: large;">OUTONO/OBLITERAÇÃO:</span><br />
<br />
<div style="text-align: justify;"> Eu falei para mim mesmo: chega de sairmos só nós dois. Amava ficar com ela, mas eu estava extremamente orgulhoso da conquista, queria exibi-la para meus amigos. Resolvi, pois, fazer uma reunião na minha casa. Um encontro de adultos. Para os homens falarem das mulheres e as mulheres falarem dos homens.</div><div style="text-align: justify;"> Comprei bastante aperitivos e pedi ajuda a Emily com as bebidas. Ela conhecia um barman, Apolo, de longa data. Só concordei porque ela afirmara que ele já tivera relações com mais homens – de uma só vez - que ela, em sua vida inteira.</div><div style="text-align: justify;"> Convidei todos que eu conhecia e gostava e sugeri que Emily fizesse o mesmo. Acabou que aquela foi realmente um festa de arrasar. Enquanto limpávamos a bagunça, ela me contou as fofocas que ouvira das outras mulheres. Aparentemente, a maioria dos meus colegas vinha tendo problemas para comparecer na hora em que sua virilidade era mais requisitada.</div><div style="text-align: justify;"> Por causa da festa, minha caixa de e-mail começou a ficar mais abarrotada de mensagens de meus amigos solteiros. Aparentemente, alguém espalhara o boato de que Emily era conhecida na empresa por ajudar as garotas solteiras - e desesperadas - a conseguir caras e os meus amigos queriam se candidatar.</div><div style="text-align: justify;"> No dia primeiro de abril, estávamos assistindo ao Jornal Nacional, quando Lucas entrou correndo no quarto com a mão vermelha do que parecia sangue. Nunca vi Emily empalidecer tanto. Ela pulou da cama, apanhou a mão dele procurando o corte profundo que teria causado tal hemorragia e, não o achando, provou e viu que era catchup. Igualmente inédito era aquele tom roxo em seu rosto que precedeu uma bronca histórica. Quando ela finalmente conseguiu dormir, de tão nervosa que estava, eu aproveitei para ir ao quarto de Lucas e cumprimentá-lo pela perfeita atuação. Rimos até ele dar um longo e alto bocejo. Apaguei a luz e fui dormir também.</div><div style="text-align: justify;"> Emily tinha um vício: chocolate. Ela amava qualquer tipo: doce, amargo, ao leite; não importava. Chegava, pois, a época em que eu teria que realmente me esforçar para impressioná-la. E eu não medi esforços. Já sabia que essa época seria importante, tinha um plano. Levei Emily e Lucas para a minha casa de praia na quinta feira da Semana Santa. Enquanto dormiam, no sábado, espalhei ovos de páscoa por toda a propriedade. Queria fazer uma saudável e alegre brincadeira no dia seguinte.</div><div style="text-align: justify;"> Contei aos dois assim que acordaram no domingo e logo me duvidei se aquela fora a coisa sensata a fazer. O pobre Lucas parecia um filhote de poodle competindo contra um pastor alemão adulto que treinara por anos na polícia, os dois farejando à procura de drogas; no caso, chocolate. Mas, como eu falei, eu tinha tudo planejado. Comprara dois ovos de personagens da Marvel, que dei ao garoto. Emily, no entanto, teve que se contentar com apenas um ovo; mas de proporções gigantescas. Dentro do seu ovo tinha um pedaço de papel onde estavam escritas três palavras: “eu te amo”. Ela pegou, leu, chorou, disse que também me amava. A partir daí, tornamo-nos viciados em reafirmar nosso amor um pelo outro. </div><div style="text-align: justify;"> No dia dezenove de abril, eu realmente comecei a me sentir parte da família de Emily, e não um mero namorado. Lucas chegou do colégio todo pintado de índio com uma enorme e chamativa pena na cabeça. Ao entrar pela porta, deixado pelo pai biológico, ele correu para dar um beijo na mãe e veio correndo logo após para falar comigo. Deu-me um forte abraço, perguntou-me se não parecia um verdadeiro índio. Eu fiquei brincando com ele. Emily o deu um banho de esfregão para tirar toda a tinta que puseram nele e depois nos reunimos os três na mesa de jantar.</div><div style="text-align: justify;"> Como quase toda criança tão sabiamente faz, ele resolveu filosofar sobre a relação humana. Disse que sua professora comparara as cidades urbanas às tribos indígenas. Disse que cada um tinha um cacique, nas cidades, seria o prefeito. Então, ele perguntou se cada família não podia também ser comparada com uma tribo. E o pequeno garoto fez-me a brilhante pergunta que iluminou minha mente, mostrando-me o que eu realmente ansiava:</div><div style="text-align: justify;"> - Então, você é o cacique dessa tribo?</div><div style="text-align: justify;"> Não preciso nem dizer que a Emily quase morreu engasgada com o brócolis que comia. Recompôs-se a tempo de mandar seu filho comer o que estava no prato antes que esfriasse e parasse de ficar pensando em coisas grandes demais para uma criança da idade dele.</div><div style="text-align: justify;"> Por mais que Lucas tenha sido quase obrigado a esquecer desse assunto, eu não fora - tampouco creio que seria possível. De repente, tudo estava claro em minha mente. O que eu mais queria, aquilo que eu teria - não importava a que custo - fazer era pedir Emily em casamento. Somente assim, eu me tranquilizaria.</div><div style="text-align: justify;"> O que sobrou de abril se tornou um frenesi. Conversei muito com meus melhores amigos. Eles eram casados, sabiam o que me acometia. Após muita consideração com eles, resolvi que protelar ainda mais era me martirizar. Se eu não juntasse coragem para fazer isso, talvez nunca me perdoasse. E assim começaram os planos. </div><div style="text-align: justify;"> Aliança. Minha amada não era metida nem esnobe. Mas se quisesse, poderia se mostrar para cima de todas as amigas com a aliança que eu comprei. Comprei pela internet. Mandei vir dos Estados Unidos direto para a casa de um amigo; na minha casa, eu corria o risco de ela ver. Tiffany's. O anel mais lindo que eu encontrei. Nem por um segundo me importei com o preço que custaria. Fazia o melhor e mais importante investimento de minha vida.</div><div style="text-align: justify;"> Para o pedido precisei da ajuda de terceiros que se dispuseram a qualquer coisa e disseram estar realmente felizes e torcendo para que tudo desse certo.</div><div style="text-align: justify;"> Dia doze de junho. Dia dos namorados. Ela já sabia que teria uma noite especial; só não tinha noção do quanto especial seria. Ela pensava que iríamos ao show da Sarah Brightman. Os ingressos eram para ótimos lugares. Jantaríamos em um restaurante na Barra da Tijuca e depois iríamos ao show lá perto.</div><div style="text-align: justify;"> Após um jantar regado do melhor champanhe à venda e de comida de primeira, fomos ao show. O primeiro ato foi magnífico. Todo o custo financeiro daquela noite valeu a pena para que eu visse aquelas lágrimas brilhantes descerem as bochechas repuxadas em um alegre sorriso. </div><div style="text-align: justify;"> No intervalo, demorei-me e Sarah Brightman começou a cantar “Fantasma da Ópera” enquanto eu estava fora. Emily me procurava por todo lado, mas não ousava sair do lugar. Ela consguir me localizar, mas eu estava no último lugar que ela pensaria: no palco. Enquanto Sarah cantava, alguém deveria aparecer vestido de Fantasma e ficar lá. Quando a música acabou, ela calou os aplausos ensurdecedores, começando um discurso:</div><div style="text-align: justify;"> - Nessa magnífica peça de Andrew Lloyd Webber, o Fantasma declama seu amor por Christine com a música. Algumas pessoas não têm os mesmos dons musicais que ele. Mas isso não quer dizer que não se pode amar alguém tanto quanto - quiçá mais que - o personagem. Tenho aqui um amigo que queria falar algo para alguém especial. O nosso amigo mascarado me pediu para falar à sua amada algo. Emily, onde está você?</div><div style="text-align: justify;"> Nessa hora, ouviu-se um grito agudo vindo da plateia. Todos começaram a seguir o holofote até que este encontrasse minha querida e estupefata amada. Ela parecia petrificada. Alguns empurrões das pessoas que a cercavam foram o bastante para tirá-la do transe. Ela acordou e subiu no palco.</div><div style="text-align: justify;"> - Querida, - começou a dizer Sarah - primeiramente, devo parabenizá-la. Não é sempre que se vê um homem tão romântico que nem o seu. Mais difícil ainda é que ele seja hétero. HAHA E, mesmo se for hétero, é quase impossível que ele esteja solteiro e disposto a ter algo com você. Então, por isso, eu a parabenizo.</div><div style="text-align: justify;"> “Agora, com a licença já dada da minha grande amiga Celine Dione, eu declamarei alguns dos versos de uma música sua que são para você.”</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: center;">What do you say of taking chances?</div><div style="text-align: center;">[O que você diz de fazer tentativas?]</div><div style="text-align: center;">What do you say of jumping of the edge?</div><div style="text-align: center;">[O que diz de pular da beirada?]</div><div style="text-align: center;">Never knowing if there's solid ground below,</div><div style="text-align: center;">[Nunca saber se há chão abaixo,] </div><div style="text-align: center;">Or hand to hold, or hell to pay.</div><div style="text-align: center;">[Ou mão para segurar, ou castigo para pagar]</div><div style="text-align: center;">What do you say?</div><div style="text-align: center;">[O que você diz?]</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> - Então, Emily? O que você diz de fazer tentativas. Por toda a vida do seu amado, ele nunca encontrou alguém como você. Ele sempre gostou de fazer os outros felizes. Mas você, pela primeira vez, conseguiu com que ele se fizesse feliz. Ele acha que sofrendo, magoará você. Você; mais ninguém. Que tal ter mais uma conquista na bagagem? Que tal ser a mulher da vida dele e isso ser oficializado? O que você diz de casar com ele? O que você diz?</div><div style="text-align: justify;"> Nesse momento todos prorromperam em aplausos extremamente entusiasmados. Eu tirei minha máscara de fantasma e me aproximei dela. Ajoelhei-me perante Emily, tirei a joia - que quase cegava à luz dos holofotes - e perguntei “Casa comigo?”</div><div style="text-align: justify;"> O que veio a seguir é a razão para a definição dessa estação. Tudo estava indo bem demais para algo apelidado de obliteração. Ela disse não e saiu correndo. Se um dia eu sonhei imaginar o que era dor, estava irrevogavelmente errado. Naquele momento eu conseguia respirar tal qual um peixe na superfície. Meu mundo rodou, rodou, rodou. E eu dormi.</div><div style="text-align: justify;"> Quando acordei já não era mais outono.</div>Eduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1468552227495096053.post-69053731518120932482010-07-18T01:00:00.002-03:002010-07-18T01:04:41.324-03:00Estações da Vida II<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkaDSIjqeo7VZsSTQpxlEDHE2pFmgaoWPquAfKsHewxzOTt12bl9Gr8OjQKbDlDVM4xH07bHFrxl1EhnunXztBpBOQTv00F66KavCAjPRS0yJs-ocl2Id08Dw6g80mX7XOhLUnWAo252k/s1600/suffocating.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkaDSIjqeo7VZsSTQpxlEDHE2pFmgaoWPquAfKsHewxzOTt12bl9Gr8OjQKbDlDVM4xH07bHFrxl1EhnunXztBpBOQTv00F66KavCAjPRS0yJs-ocl2Id08Dw6g80mX7XOhLUnWAo252k/s320/suffocating.jpg" /></a></div><br />
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<span style="font-size: large;"><b>VERÃO – PARTE UM/ SUFOCO:</b></span><br />
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Calor. Não consigo passar alguns poucos minutos sem a ajuda de um ventilador, ar condicionado ou algo do gênero. Sinto-me uma bola de sorvete tentando resistir bravamente no calçadão de Copacabana, onde caiu da casquinha de uma criança. Uma aparente obsessão por banhos me domina. Junto a ela, acho que um surto psicótico também começa a agir sobre mim. Torno-me instável, mais até que uma grávida.<br />
Começo o ano lendo. Devoro páginas como se curasse uma inanição. Não sabia – à época – o porquê de amar tanto os livros. Férias: tempo ocioso. Algo tenho que fazer para não pirar de vez. E cheguei bem perto de perder o controle.<br />
Um fator surgiu para domar meus hormônios e calmar minha mente, focá-la em algo. O cenário: teatro, um musical sobre uma família austríaca era apresentado. Sempre amei teatro musical, mas quase nunca ia. Eu tinha – ainda devo ter – um enorme defeito: chegava uma hora, durante a apresentação em que não conseguia mais me segurar e começava a cantar as músicas junto dos atores. Naquela apresentação, porém, não fui o único. O tenor sobre o palco e o barítono sentado na minha poltrona eram acompanhados por uma soprano muito delicada. Aquela voz soou-me tão familiar, tão de acordo com cada parte do meu ser, que eu tentei me lembrar se essa era a primeira vez que a ouvia, ou se já nos conhecíamos havia anos.<br />
No intervalo, ao me sentar, por acaso – ou não –, ao seu lado na cafeteria, perguntei-lhe seu nome. Emily. Tomamos umas taças de xerez e tivemos uma breve conversa sobre o quanto achávamos ótimo que as pessoas parassem uma noite de suas vidas para apreciar algo tão belo quanto aquilo que víamos. De volta às poltronas, a atenção de cada um destes dois expectadores deslocou-se do palco para o outro. Inevitavelmente, acabamos indo a um bar à beira da praia para uma conversa amigável, regada no óleo das batatas fritas, Coca-Colas, cervejas e na fumaça dos cigarros.<br />
Fomos nos conhecendo melhor. Ela insistia em dizer que tinha vinte e sete anos, mesmo eu jurando que ela parecia ter cara de dezessete, fazendo-a corar e sorrir de uma maneira que fazia meu coração perder o compasso. Trabalhava com publicidade. Adorava Sarah Brightman, Harry Potter e Crepúsculo. Eclética, não?<br />
Jogamos conversa fora até o sol começar a sair e o garçom nos avisar que a cerveja acabara. Pagamos – paguei – a conta e a chamei para uma caminhada na areia. Ela concordou e pediu para que eu esperasse enquanto tirava os saltos. Pedi-lhe que sentasse. Ajoelhei-me perante a dama e gentilmente desamarrei o salto que estava no seu pé esquerdo. Tomei um risco e fiz uma massagem de leve em seu pé, algo que aprender em um curso-relâmpago de reflexologia pela internet. Ela pareceu gostar. Sorriu e corou daquela maneira à qual eu começava a me sentir viciado.<br />
Passei para o outro pé. Ao retirar o calçado, notei que havia uma pigmentação estranha no canto lateral. “Lucas” estava escrito. Delicadamente, passei a mão pelo nome, simplesmente para comprovar o que temia: era uma tatuagem verdadeira. Ela notou minha hesitação, trocando o foco de sua visão do sol nascente para mim.<br />
- Ah! Então você já achou isso.<br />
- Er, sim. - eu tentei aparentar o mais alheio possível ao homem que fora homenageado por ela - É... Emily... por acaso há algo que você se esqueceu de mencionar...?<br />
- É, receio que haja algo. Como você é um cara legal, acho que merece saber toda a verdade. Sim, há outro homem na minha vida.<br />
É nesse ponto que começa o verdadeiro sufoco do verão. Como sempre vivi no Rio, estou acostumado ao calor escaldante. Mas meu queixo estava caído. Eu suava como um porco usando poncho. Mal conseguia respirar. De repente, comecei a sentir uma dor – com a qual estaria familiarizado no futuro – no peito. Pensei que fosse falta de oxigênio e excesso de gás carbônico nos meus pulmões. Mas a dor não vinha deles: era entre os dois.<br />
- É, ok. Momento meio sem graça. Hehe – aqui se passam, aproximadamente, os dois minutos mais longos da minha vida nos últimos anos – Então... Quem é Lucas? Vocês são – essa palavra, em especial, custou-me um pedaço do meu pâncreas – namorados? Digo isso porque você não tem aliança. Então... Quem é Lucas?<br />
Aqui a minha consciência se transforma em uma roleta. Tudo perde mais uma vez o sentido. Parece que estou novamente vendo os fogos. Contudo, dessa vez há um som de fundo; ouço risadas. Emily está rindo. Melhor dizendo, gargalhando.<br />
Eu olho para ela com a minha perfeitamente autêntica cara de desentendido. – O que foi?<br />
- Seu bobo. Não. Lucas não é meu namorado. Nunca foi.<br />
- Ah! Então, seu pai?<br />
- Não.<br />
- Por favor, diz que é seu melhor amigo gay.<br />
- HAHA Não. Também não. Quer parar de tentar adivinhar? Daqui a pouco vai achar que eu tatuei no meu pé o nome do meu açougueiro.<br />
- Desisto. Hehe Quem é Lucas?<br />
- Lucas é um lindo garoto de sete anos.<br />
- Agora só estou mais confuso. Irmão?<br />
- Você não tinha parado de tentar adivinhar? Hehe... Lucas é meu filho.<br />
- Sério? Fruto do seu ventre? – e que seja lida nessa frase uma cara de paisagem enorme.<br />
- Nossa! O nome dele é Lucas, não Jesus! E sim, meu filho. Eu não falei antes porque esse é o tipo de coisa que afasta todo cara. O pai... nunca realmente gostei dele o bastante para casar. Mas ele me deu o maior presente de todos e, por isso, nunca poderei o agradecer o suficiente.<br />
- Emily. Vamos caminhar.<br />
- Você não vai sair correndo?<br />
- Vamos caminhar.<br />
Descemos para a areia. Começamos a descer para a água. Como estávamos vestidos para teatro – e éramos dois dos poucos que ainda se vestiam bem para tais ocasiões – optamos por simplesmente caminhar descalços e não molharmos nada mais que os pés.<br />
Após alguns minutos escolhendo bem as palavras que queria usar, eu finalmente disse:<br />
- Eu também não fui completamente honesto com você. Emily, eu sou infértil. É quase impossível que eu venha a ter filhos biológicos, então sou considerado infértil. E sabe, eu realmente queria investir em você. Cansei de vadiar nas noites boêmias da Lapa. Quero ter uma vida mais estável, ser mais caseiro. E, agora, sabendo que você já tem um filho de sete anos, conforto-me. Mas você ainda quer ter filhos?<br />
- Meu, falando a verdade, o Lucas basta. HAHA<br />
- Eu imagino como deve ser. HAHA<br />
Nós ficamos caminhando silenciosamente, com raios dourados surgindo no horizonte, uma brisa soprando em nossos cabelos e a música dos mares soando em nossos ouvidos.<br />
Acabou que aquilo não foi mais um caso. A coisa realmente evoluiu. Praia de manhã. Parque à tarde. Cinema à noite. Frequentamos quase todos os restaurantes italianos de toda a orla de Copacabana. Curtimo-nos.<br />
Janeiro passou. Fevereiro chegou com os compromissos. Ela tinha a escola do filho e o trabalho para manterem-na ocupada. Eu não tinha as preocupações de outra pessoa para me atrapalhar; só as minhas já eram o suficiente.<br />
A mãe dela veio para o Carnaval. Disse que queria passar o feriado com o neto, pois havia muito tempo que não o via. Aproveitamos e viajamos para a serra. A região dos lagos estaria insuportavelmente cheia nesse época; inabitável. E, como nós dois amávamos frio, eu pedi emprestada a casa de um amigo em Itaipava e lá fomos nós para um final de semana que prometia.<br />
Chegamos, no carro dela, por volta das seis da tarde. Não tivemos que fazer limpeza alguma, já que havia uma mulher que o fazia regularmente. Acomodamo-nos na suíte no segundo andar. Almoçamos muito cedo com a mãe e o filho dela naquele dia; tínhamos, pois, fome. Eu a prometi que, pelo menos naqueles dois dias, ela se sentiria uma rainha e que, para tal, não faria nenhuma tarefa que a cansasse.<br />
Peguei alguns vegetais e fiz uma leve salada. Fiz um elegante prato de massa e levei tudo para a mesa de jantar. Acendi algumas velas, coloquei um vinho tinto suave de mesa para mim e para ela e um pouquinho de Barry White – que nunca faz mal a ninguém – ficou responsável por ditar o clima.<br />
Quando ela saiu do banho, vestia um robe de seda. Ao ver a mesa, riu e perguntou se teria tempo de pôr um vestido longo antes que o rei chegasse. Eu respondi que ela era perfeita, não importava o que vestisse, e que ela era toda a realeza daquele recinto. Sentamos e comemos. Quando saciados, subimos ao mezanino e nos deitamos no sofá para assistir a um filme que amávamos: “Dança comigo”. Lá pela metade, eu a convidei para dançar. Embalamos um dois pra lá, dois pra cá completamente fora do ritmo da música que tocava. Os créditos já haviam até acabado, e lá estávamos nós. Agora, prendíamos a nós mesmo em um abraço apertado, enquanto nos balançávamos pelo cômodo.<br />
O dia seguinte foi regido por um lema: relaxamento. Acordamos, ficamos um tempo inimaginavelmente prazeroso nos mirando nos olhos sem falar nada. Tomamos um leve café da manhã e fomos à piscina. Mergulhamos até nos cansarmos e depois ficamos dourando sob o sol. Aproveitei para pôr em prática outra técnica de massagem que aprendi: drenagem linfática. Usando um óleo que eu sabia que ela amava, tentei ao máximo torná-la leve o bastante para voar como uma pena ao vento.<br />
Não tivemos fome na hora do almoço, então passamos um bom tempo na sauna conversando sobre livros, outra paixão mútua. Quando já era umas quatro da tarde, subimos para a suíte. Tomamos um banho de sais na hidromassagem.<br />
À noite, fez frio. Como não comêramos no almoço, resolvemos fazer um fondue. Levamos o jogo todo para o quarto e comemos na cama, abraçados sob um grosso edredom. Gostoso.<br />
No domingo, passeamos pelo centro de Itaipava, por Petrópolis e vários outros lugares ali perto. Voltamos para o Rio na segunda pela manhã.<br />
Fevereiro terminou. Março tampouco foi longo, ou marcante. Lógico; eu nunca esqueceria cada um dos felizes segundos que passei ao lado dela, mas nenhum evento em especial ocorreu.<br />
Eu mergulhei de cabeça naquele relacionamento. A cada momento eu tentava o meu melhor para fazer com que aquilo desse certo. E, de alguma forma, sentia a mesma coisa da parte dela.<br />
Eu, que pensava que encontrara minha saída do sufoco nela, encontrei uma nova razão para pânico. Não seria mais só a falta de ar; agora seria uma total e completa obliteração.Eduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1468552227495096053.post-9010745757457754512010-07-11T19:21:00.004-03:002010-07-11T19:30:08.944-03:00Estações da Vida<div style="font-family: inherit; text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"> Em janeiro desse ano, estava eu na varanda, iluminado somente pela luz do luar e a do laptop. Tentava desesperadamente escrever algo. Eu queria participar do ECA - RIP -, mas não podia enviar o Narciso, por não ser inédito. Depois de muitas porcarias, cheguei a este conto, Estações da Vida.<br />
Havia dois meses - novembro do ano passado -, eu vira o DVD do musical RENT. A música de abertura, "Seasons of Love", me comoveu especialmente. Por acaso, ou não, foi nela que achei a inspiração para essa declamação de um amor.<br />
Eu resolvi postar agora, pois já registrei o texto e estou particularmente decepcionado com a frequência com que posto algo aqui. Dividirei em 5 partes, uma a cada domingo.<br />
Chega de lenga lenga. Eis o conto...<br />
</span></span><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"></span></span><br />
<a name='more'></a><br />
<div style="text-align: center;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><b><span style="font-size: x-large;">ESTAÇÕES DA VIDA</span></b></span></span></div><div style="text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL_5an2Sne7NbBtPXZk7j7_XBFhQMbFa91kYM1FiM9K7mKtG2__FohI5NRy0Z70mPZisyTM6Gur14S_xkcXB_NxX1S8AOrFhyV9e4LvwDvy3uc5T0ddN60Glkaj3ZNKWjXhs4qd_lYz_E/s1600/The_Station_by_deylac.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL_5an2Sne7NbBtPXZk7j7_XBFhQMbFa91kYM1FiM9K7mKtG2__FohI5NRy0Z70mPZisyTM6Gur14S_xkcXB_NxX1S8AOrFhyV9e4LvwDvy3uc5T0ddN60Glkaj3ZNKWjXhs4qd_lYz_E/s320/The_Station_by_deylac.jpg" /></a></div><div style="text-align: center;"></div><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><br />
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<span style="font-size: small;"> Quinhentos e vinte e cinco mil, seiscentos minutos. Oito mil, setecentos e sessenta horas. Trezentos e sessenta e cinco dias. Um ano. Bastante tempo, quando se vive em um mundo com uma média de vida em – o quê? – oitenta nos? Parece-me bastante tempo. Diz-se que a vida da pessoa pode mudar drasticamente em um minuto. Pode ser o primeiro e afobado beijo, a tão esperada, rápida e cansativa primeira ejaculação ao se perder a virgindade; muita coisa pode acontecer em apenas um minuto. <br />
Minha vida foi verdadeiramente mudada. Pode-se facilmente medir a duração dessa mudança. Não foi, porém, um minuto. Um ano. Tão intenso! Às vezes, tento parar e enumerar todos os grandes acontecimentos. Por volta de dez minutos após começar nessa aventura, sempre acabo por desistir. Afinal, provavelmente levaria outro ano inteiro. Resolvi, pois, separar esses eventos de acordo com as estações do ano às quais pertencem. Se eu tivesse que resumir em uma palavra cada estação, o verão – parte um – seria sufoco; outono, obliteração; inverno, hibernação; primavera, ressurreição; e verão – parte dois –, insurreição.<br />
Mas o que de fato aconteceu? Bem...<br />
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VIRADA DO ANO: <br />
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Todas as pessoas simplesmente parecem esquecer seus problemas. Todos se reúnem para as festividades. Comem, bebem, brincam, fofocam. Nada como um fim de ano para nos fazer exercitar nossas habilidades teatrais. Mandamos nossos melhores desejos a todos os nomes amigos do orkut, pomos no nosso twitter cento e quarenta caracteres de boas vibrações. Bem, todos o fizeram. Eu não.<br />
Eu vinha de uma recém-descoberta parceria que se revelara falsa. Estava chocado. Não podia crer que fora enganado, levado a pensar tanto de tão pouca coisa. Parecia que minha mente estava começando a gostar de pregar peças em mim. <br />
Quando estava chegando a hora de jogar o calendário pendurado na geladeira fora e pôr o novo, presente – grego – daquela tão – ou nem um pouco – atenciosa tia, eu implorava por aquela taça de champanhe. Talvez fosse porque nunca ficara realmente bêbado, mas algo eu sei: eu queria afogar um ano inteiro de preocupações e arrependimentos naqueles três dedos anoréxicos de espumante. Antes disso, minha estratégia era ignorar a realidade. Agora não; agora eu queria forçá-la garganta à baixo e não pensar nela até defecá-la.<br />
Meia noite. O mundo pula e grita, extravasando a alegria. Talvez estejam ambos felizes por terem sobrevivido a mais uma maratona, e se preparando para a que estava por vir. Eu não gritei. Não pulei. Mal cumprimentei as pessoas. Fiz apenas o que as regras de etiqueta me obrigaram. Estava, na verdade, absorto. Mirava as figuras que o fogos criavam no céu. Círculos perfeitos, cascatas. Azuis, vermelhos, verdes. Uma profusão de imagens das mais variadas colorações me inebriava. Parecia ter-me perdido em um labirinto mental. Posteriormente, eu viria a interpretar este momento como um presságio daquele ano.</span> </span></span></div>Eduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1468552227495096053.post-87088101121998777872010-06-06T21:10:00.002-03:002010-06-06T21:11:44.242-03:00Os encantos ciganos de uma superprodução<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbch6-Dap0MxA7OImv6YFlfySaeqgDSJt_gXnJYCLgWyUIfN0ptRGU4kQeZ9xSlKj0ywyNK-Y3KOK1X78Rh1umhM7RrnP0WO7SIMY9Wj3pIc8ZDGuIcX3wrmm13Y8rptKAlaiZ7RvEFCU/s1600/gypsy.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="148" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbch6-Dap0MxA7OImv6YFlfySaeqgDSJt_gXnJYCLgWyUIfN0ptRGU4kQeZ9xSlKj0ywyNK-Y3KOK1X78Rh1umhM7RrnP0WO7SIMY9Wj3pIc8ZDGuIcX3wrmm13Y8rptKAlaiZ7RvEFCU/s320/gypsy.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: center;"> </div><br />
<div style="text-align: justify;"> Charles Möeller e Claudio Botelho são realmente os “magos dos musicais”. Juntos desde 1991, eles têm mais um espetáculo em exibição, o famigerado GYPGY- O Musical.</div><div style="text-align: justify;"> O espetáculo foi lançado originalmente em 1959 por uma colaboração de futuros ídolos do teatro musical: Arthur Laurents (autor do texto), Jerome Robbins (diretor e coreógrafo) e Stephen Sondheim (compositor). Dois anos antes, esse mesmo grupo criou West Side Story (Amor Sublime Amor). Era, pois, claro que GYPSY estava destinado ao sucesso.</div><div style="text-align: justify;"> Baseada nas memórias da lendária stripper Gypsy, a peça retrata a vida de uma família que, apesar de pouco convencional em sua formação – uma mãe solteira com duas filhas -, busca o que muitos almejam: o Sonho Americano. Rose, a mãe, luta com todas as suas forças pelo estrelato para suas filhas, seja no teatro vaudeville ou no burlesco. June é sempre a favorita e Louise é posta como mera coadjuvante nas apresentações e até na atenção de Rose. Após June fugir, a mãe tenta se redimir com Louise, tornando-a a estrela de suas criações. Essa destemida luta pela fama culmina em sua transformação para a maior stripper do início do século XX, Gypsy Rose Lee.</div><div style="text-align: justify;"> Charles Möeller e Claudio Botelho merecem tantos prêmios quanto houver por sua brilhante ideia de trocar o foco da peça da filha Louise para a mãe. Rose é interpretada por uma Totia Meireles cheia de vivacidade na voz e na atuação. Adriana Garambone (Louise) também está louvável como Gypsy Rose Lee. O confronto entre as duas é de abalar qualquer troglodita. </div><div style="text-align: justify;"> A peça começa com um elenco infantil que merece aplausos de pé. A Baby June, que é representada por Hannah Zeitoune, Jana Bas e Thayna Campos, alternadamente, ganha o coração de todos com seus gritinhos e espacates. O salto na linha de tempo é feito brilhantemente: um jogo de luzes e coreografia de dar inveja a qualquer novela televisiva com seus “X anos depois”. Além do trio de stripers decadentes formado por Liane Maya, Sheila Matos e Ada Chaseliov, que garante risadas a qualquer um, o elenco principal é formado por Renata Ricci e Eduardo Galvão e André Torquato.</div><div style="text-align: justify;"> Como dito por Baby June, ”todo mundo tem alguém a quem agradecer pelo sucesso que faz”. Qualquer carioca amante desse gênero teatral só tem a agradecer a Möeller e Botelho e ao elenco. Todos contribuem para que essa superprodução seja mais um exemplo de que os musicais estão aqui para ficar. E ainda vão crescer. Esperem e verão. </div><br />
PS: Agradecimento especial a Arthur.Eduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1468552227495096053.post-24202396442043574222010-04-10T14:54:00.000-03:002010-04-10T14:54:36.011-03:00Viva!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjv1rPatX7XTgJiQgImx7c6HLiNpGrt9YcxstVNso2y4zIKxKu1Kiqt5GHsXCeUZv8LLMpeAzmfV59t-OrO37rhnojw_dJBgVcbynf-sY8yyOkTSTrbX7NTvtuAfq09x9C8tFLUBJ_IYVI/s1600/chain.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjv1rPatX7XTgJiQgImx7c6HLiNpGrt9YcxstVNso2y4zIKxKu1Kiqt5GHsXCeUZv8LLMpeAzmfV59t-OrO37rhnojw_dJBgVcbynf-sY8yyOkTSTrbX7NTvtuAfq09x9C8tFLUBJ_IYVI/s320/chain.jpg" /></a></div><br />
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<div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i>She's lost inside.</i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i>Lost inside.</i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Perdida no labirinto.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Tenta, </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">A todo custo, </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Escapar das correias.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Atada está ao chão,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Solo hostil</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Habitado por cobras.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Ouve cantos.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Salvação melódica,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Aquela voz </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Emana força.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">A cada batida </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">De seu vacilante coração,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Rompe os elos.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">As amarras soltas,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Sente o sabor</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Da sonhada liberdade.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Primeiro beijo,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Primeira transa,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Primeiro momento</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Em liberdade;</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Momentos, </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Por si só,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Inesquecíveis.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Mas há algo estranho</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Não consegue</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Pôr-se de pé.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Mantém-se curvada,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Tal qual a velha</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Que há muito</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Sofre de cifose.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i>Homo curvadus</i>,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Finalmente percebe</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Que, pela extensão</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Das correntes,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Nunca alongara </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">A coluna</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">As vértebras, pois,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Desconheciam como</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Ficar empilhadas</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Lá está Ela.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Pobre Ela!</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Pôs-se a vida toda</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">A desejar.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Agora que,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Prematuramente, </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Alcançou,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Não sabe como agir.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i>Never mind.</i></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Conseguirá.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Parcela por parela,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">A Vida alcançará</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">A postura ereta.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Vamos, Vida!</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Não se esqueça</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Dos cantos.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Sereianos ludibriam</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">A quase todos;</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Alguns poucos,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Dotados de vontades</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Puras como virgens,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Por eles </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">São ajudados.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Alimente-se </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Da música.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Coma os versos,</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Beba as notas.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Viva, Vida!</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Viva!</div>Eduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1468552227495096053.post-43264627602145962822010-03-08T12:06:00.002-03:002010-03-08T12:13:49.370-03:00Emily<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQHFpf-9TxtK5t1STE8QT7GkR14j3oa4xEYkVyaNoXcdurMGa6i0tB6u1yOJSxnFc-jclrDgocUgMiZGSk_27yRUD1QFCRlOlu8Mx95v2iGgekrSR03oMjzl1ZFtXoZs9iRYaMHEFyVNk/s1600-h/moon.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQHFpf-9TxtK5t1STE8QT7GkR14j3oa4xEYkVyaNoXcdurMGa6i0tB6u1yOJSxnFc-jclrDgocUgMiZGSk_27yRUD1QFCRlOlu8Mx95v2iGgekrSR03oMjzl1ZFtXoZs9iRYaMHEFyVNk/s400/moon.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;">Está calor.</div><div style="text-align: justify;">Estou com insônia.</div><div style="text-align: justify;">Tira a coberta e vou para a janela.</div><div style="text-align: justify;">Debruço-me nela e ponho-me a captar a leve brisa.</div><div style="text-align: justify;">Miro o céu.</div><div style="text-align: justify;">Tantas coisas podem ser traduzidas daquelas estrelas.</div><div style="text-align: justify;">O próprio Hércules lutou e conseguiu seu lugar lá.</div><div style="text-align: justify;">Olha lá a Lua!</div><div style="text-align: justify;">Tão sólida.</div><div style="text-align: justify;">Tão brilhante.</div><div style="text-align: justify;">Aquelas duas crateras não são interessantes?</div><div style="text-align: justify;">Da forma em que estão, poderia jurar que são olhos.</div><div style="text-align: justify;">Espera!</div><div style="text-align: justify;">Sou eu ou as crateras se fecharam e abriram rapidamente?</div><div style="text-align: justify;">Acho que o sono está chegando e estou bêbado.</div><div style="text-align: justify;">Volto para a cama, não sem antes parar e fitá-las novamente.</div><div style="text-align: justify;">Movimento algum dessa vez.</div><div style="text-align: justify;">"Ei, psiu."</div><div style="text-align: justify;">Abro os olhos com medo.</div><div style="text-align: justify;">Por Zeus, quem estará me chamando?</div><div style="text-align: justify;">Olho para o armário.</div><div style="text-align: justify;">Repito "Riddikulus" várias vezes.</div><div style="text-align: justify;">Volto a dormir.</div><div style="text-align: justify;">"Ei, você aí fingindo que está dormindo."</div><div style="text-align: justify;">Levanto e pego meu livro de cabeceira.</div><div style="text-align: justify;">Não há uma pessoa que resista a uma porrada bem dada com a Ilíada.</div><div style="text-align: justify;">Vasculho o quarto, mas não posso pôr meus olhos em quem me chama.</div><div style="text-align: justify;">Tenho um palpite louco:</div><div style="text-align: justify;">Vou olhar pela janela.</div><div style="text-align: justify;">Olho para a rua.</div><div style="text-align: justify;">Nada, só três gatos caminhando pomposamente.</div><div style="text-align: justify;">Guardiões da noite e do outro mundo.</div><div style="text-align: justify;">Ahaza, bee.</div><div style="text-align: justify;">"Olha pra cima, palerma."</div><div style="text-align: justify;">Medo de fazer isso.</div><div style="text-align: justify;">"Oi...Lua?"</div><div style="text-align: justify;">"Koé leske!"</div><div style="text-align: justify;">Meu queixo vai ao chão.</div><div style="text-align: justify;">"Brincadeirinha. Não precisa me chamar de Lua. Usa apelido, Emily."</div><div style="text-align: justify;">Engraçado, eu conheço uma garota que se chama Emily.</div><div style="text-align: justify;">Ela é incrível.<br />
Virgem. </div><div style="text-align: justify;">Adora a noite.</div><div style="text-align: justify;">Prefere frio ao calor.</div><div style="text-align: justify;">Uma mulher guerreira.</div><div style="text-align: justify;">Consegue se virar sem precisar de um homem para controlá-la.</div><div style="text-align: justify;">Adora andar com suas amigas mulheres para falar mal de homens e daquelas que se rendem a eles.</div><div style="text-align: justify;">"Queridinho, hello! Você já estudou mitologia grega?"</div><div style="text-align: justify;">"Já sim, por quê?"</div><div style="text-align: justify;">"Essas características não o lembram alguém?"</div><div style="text-align: justify;">Meus olhos se arregalam.</div><div style="text-align: justify;">Caio para trás no quarto.</div><div style="text-align: justify;">Não foi um simples escorregão.</div><div style="text-align: justify;">Nem foi pelo susto quando percebi quem de fato era minha amiga.</div><div style="text-align: justify;">Da Lua saiu um raio de luz que veio até mim e me derrubou.</div><div style="text-align: justify;">Após minha visão se acostumar, percebi que não era simplesmente um raio de luz.</div><div style="text-align: justify;">Era Emily!</div><div style="text-align: justify;">O que é isso?</div><div style="text-align: justify;">Será que confundi limonada com absinto?</div><div style="text-align: justify;">"Eu, queridinho, sou Emily."</div><div style="text-align: justify;">"Mas... mas... mas..."</div><div style="text-align: justify;">"Por que todo homem gagueja quando me vê?"</div><div style="text-align: justify;">"Você é Emily ou Ártemis?"</div><div style="text-align: justify;">"Você é bobo ou bobão? Brincadeirinha, coração.</div><div style="text-align: justify;">Eu sou as duas.</div><div style="text-align: justify;">A verdadeira razão para eu vir é..."</div><div style="text-align: justify;">Nesse momento minha mãe me acorda para me arrumar.</div><div style="text-align: justify;">Tenho que ir à escola.</div><div style="text-align: justify;">Que lindo!</div><div style="text-align: justify;">Sonho com amigas virando deusas.</div><div style="text-align: justify;">Devo finalmente ter pirado de vez.</div><div style="text-align: justify;">Levanto-me e acordo para a vida.</div><div style="text-align: justify;">Afinal, minha Emily está tão distante quanto Lua.</div><div style="text-align: justify;">Sem problema.</div><div style="text-align: justify;">Um dia eu viro astronauta e visito-a.</div><div style="text-align: justify;">Olho para o resquício de Lua que ainda está no céu.</div><div style="text-align: justify;">Sou eu ou as crateras se fecharam e abriram rapidamente? </div>Eduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1468552227495096053.post-81763696883893774022010-02-20T16:05:00.001-02:002010-02-20T16:09:00.716-02:00Os cães, as gatas e a praia<div style="text-align: justify;"> Fim de tarde. Fim de mundo. Fim de paciência. Ponho meu tênis e vou-me para a rua. Saio pelo portão. Sinto uma estranha<i> </i>(<i>e falsa</i>) sensação de liberdade. Não posso realmente ir para onde quiser, mas tenho um bom raio de espaço livre a ser vasculhado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Decido por andar e aproveitar o momento. Sete da noite, o sol está se pondo. As pessoas aproveitam que a cidade resolveu dar uma aliviada na temperatura. Aparentemente, estávamos sob risco de inundação devido à quantidade de suor produzida diariamente pela população.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Bem, não estou na capital. Fui arrastado para o limbo. Não que este seja um lugar tão mítico ou importante quanto o limbo; é só que Araruama serve de passagem. É como uma ponte, uma ligação não muito importante.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Estou a andar sentindo a brisa da lagoa beijar meu rosto. Vou andar a orla toda. Todos os dois quilômetros não me parecem de nada ameaçadores. E quem sabe com uma melhor condição física eu consiga algo com o design.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Conforme o asfalto vai ficando para trás, começam a aparecer os cães. Das mais variadas formas, eles me acompanham por todo o caminho. Há aqueles que vagueiam sozinhos. Há os de pedigree que nada mais fazem que procurar uma fêmea para procriar. Juro que um deles quase passou por fêmea. Portava uma barrigada tão protuberante que eu pensaria que carregava três filhotes se não fosse por ele, o falo. Balançava inconfundível e imponentemente ao sabor do vento. Macho.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Começam a aparecer as gatas. Das modelos de saca de ração àquelas que adoram se embrenhar no lixo à procura de um peixinho frito com limão, comparecem aos montes. Algumas carregam os rabos tão alto que se pode ver suas partes, quiçá suas entranhas. Podia jurar que as felinas eram mais metidas que isso. Sempre pensei nelas como cheias de melindres. A verdade é que algumas ganham dos próprios cachorros na questão do relaxamento das maneiras.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Os cães, como em todo bom desenho, miravam-nas sedentos. Algo em minha mente me lembrou do filme O Rei Leão. Vi um cachorro mostrando ao outro como se esconder e preparar a emboscada para atacar aquela a qual tanto desejava. O que de fato nenhum desses dois sabia é que a presa estava perfeitamente ciente da armadilha. Ela via o caixote e, propositalmente, derrubava o graveto de sustentação e acionava o modo atriz para aparentar surpresa ao ser resgatada daquela prisão pelo bravo cão, ou pelo cão dominador que agora a possuía – vai depender da vontade da freguesa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Virando a esquina, encontrei um animal conhecido. É, o mundo é como o número dos leitores desse blog. Esse cão que parado aí estava, montado sobre a gata que lançou-me ameaçador. Bastou um carinho atrás da cabeça – o ponto G dos animais - para que ele voltasse a prestar atenção naquele que tinha debaixo de si.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Termina a tarde e se põe lindamente no horizonte o balão dourado. Termino toda a orla. Decido refazê-la. Correndo dessa vez. Corri metade apenas. Parei para tentar respirar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Parado lá, vi uma estranha reunião de felinas. Pensei no que as faria estar naquele lugar àquela hora. Já começava a escurecer. E lá estavam elas naquele beco cheio de latas de lixo. Abri um sorriso. Esperei quieto e parcialmente escondido; queria vê-las cantar a Jellycle Song for Jellycle Cats. Nada. Deviam ser renegadas. Pfff</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Voltei no ritmo com que comecei. Não lento; o natural para mim. Consegui recuperar o fôlego e voltar a admirar a bicharada. Algumas matilhas passaram por mim. Uma era formada apenas por vira-latas pulguentos locais. Outra, por cães que, com um bom trato, encantariam até as mais exigentes madames.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Uma em especial chamou minha atenção. Eles andavam tão rapidamente e tão juntos que peguei me perguntando, “Aonde vão?” Eles com certeza estavam de passagem por esta cidade. Tinham todo aquele charme urbano. Andavam em direção à estrada com convicção. Perguntei-me se sabia aonde EU ia.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> Após algum tempo ponderando, cheguei à minha rua. E, conforme voltava para o portão, a única coisa que pude me responder era que nada sabia de minha vida a longo prazo, mas que amanhã eu iria mais uma vez me encontrar com os cães, as gatas e a praia.</div>Eduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1468552227495096053.post-49836059757664841742010-02-06T12:13:00.002-02:002010-02-06T13:15:54.030-02:00Planta-homem A História é muito doida. Juntando todos os fósseis humanos já encontrados, pode-se traçar o caminho que a humanidade fez, a partir da África. Interessante. O continente tido por negro, desconhecido, é na verdade o berço do homem. Ou da mulher, no caso Lucy. Não é fascinante o quanto a História pode ir mudando completamente o mundo apenas com pontos de vistas diferentes?<br />
Qualquer aluno que receba educação básica já ouviu falar da escala evolutiva humana, passando pelo neandertais, cromagnons, erectus e muitas outras palavras ótimas de se por em uma forca. O pré-adolescente comum sabe saber que a espécie humana atual é Homo Sapiens Sapiens. Bem, será?<br />
Como muitas coisas na escola, às vezes se pode afirmar algo que será desmentido no futuro. A maturidade intelectual é deveras importante para que se possa compreender que resolver um sistema é, na verdade, achar a interseção entre os conjuntos soluções das duas ou mais equações a serem analisadas. Mas será que o homem chegou ao máximo de sua maturidade intelectual? Entendo esta característica como algo inalcançável, em sua plenitude. O que podemos, no entanto, é termos o máximo possível de vertentes filosóficas.<br />
Adotemos uma vertente pouco falada hoje em dia: a planta-homem.<br />
O mundo, a cada revolução industrial, parece assumir colorações mais cinza férrico e vermelho cúprico. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e as pesquisas, vem a verdadeira fissão entre o mundo clássico e o atual. <br />
Antigamente, o homem tinha uma relação com a natureza de “amizade”, em grande parte devido ao politeísmo. Avaliando a crença grega antiga, vê-se vários deuses que representavam o homem e a Terra. <br />
Hoje em dia, vivemos as consequências da revoluções industriais. O verde está sumindo do mundo. Qualquer aluno do terceiro ano sabe quanto o Aquecimento Global é maciçamente trabalha nos vestibulares e em várias outras áreas. Todo mundo sabe que as plantas estão morrendo. Mas são só elas?<br />
Uma coisa que não é muito comentada é que o Homo Sapiens Sapiens tem uma característica especial. Ele é uma planta. Como assim uma planta? O homem tem suas raízes no mundo. São elas que nos permitem raciocinar perfeitamente sobre as coisas da vida. Ele tem os braços liberto para interagir com o resto do mundo.<br />
Essa visão pode levar a conclusões errôneas. Para clarificar uma delas, direi o que realmente mata a planta-homem: ela é uma planta que precisa de muita luz, por isso que toda hora a humanidade tenta chegar mais perto do pleno saber. O que vai pôr em extinção esta espécie é a caverna. Só há sombras neste esconderijo.<br />
Por que escrevi esta coisa muy lowca? Porque pretendo aqui fazer uma avaliação mental. Como sugere o nome, desisti de raios-X e tomografias da minha cabeça. O que farei é, sem melindres, nem morfinas, fazer uma autópsia em meu cérebro. Talvez ninguém me leia. Talvez o planeta inteiro me leia. O mais importante é que escrever estas coisas me proporciona um crescimento incomensurável. Com esses textos, sinto-me uma planta-homem cada vez mais afastada da caverna.<br />
Não fechei a quantidade de posts por determinado período de tempo. Deixarei fluir o mais naturalmente possível. Prometo tentar o quanto antes estar incluindo aqui poemas e contos do meu acervo.<br />
Sem mais delongas, beijinhos.Eduardo Mercadantehttp://www.blogger.com/profile/07344192876476273655noreply@blogger.com0