domingo, 1 de agosto de 2010

Estações da Vida IV


INVERNO/HIBERNAÇÃO:

           É engraçado. Sempre ouvi que o animal mais próximo à raça humana era o primata. Bem, pelo que eu saiba, quem hiberna são os ursos e foi isso que eu fiz por três meses. Eu virei um urso por todo o inverno e hibernei. Foi como se eu realmente dormisse todo esse tempo. Eu vivia o meu pesadelo. Perdera tudo que mais quis, por querer demais.
           Einstein disse que tudo é relativo. O exemplo mais comum que é dado na escola é a duração das aulas. As aulas mais legais parecem ser mais curtíssimas e as de geografia sempre são longas.
           Se não me engano, ele também falou sobre memória seletiva; ou ele tinha isso. Não lembro.
           Unindo relatividade do tempo e memória seletiva, fala-se do meu inverno. Falando a verdade, eu só sei que foram três meses porque acordei e as flores estavam desabrochando. Poderiam ter sido dias, horas, minutos. Aí está a diferença. Um minuto vivido loucamente pode mudar mais a vida de uma pessoa do que um ano inteiro sob o estado em que me encontrava nessa época.
           A letargia dominou-me de tal forma, que perdi a noção de tempo e perdi todas as lembranças desse período. Acho que minha mente queria me preservar de uma possível dor ao me lembrar do sofrimento pelo qual passei e, por tanto, simplesmente não guardou nada.
           Resumindo, como é característico dessa estação, só que em outros lugares - talvez a Sibéria -, minha lembrança do inverno é um enorme branco.