segunda-feira, 8 de março de 2010

Emily

Está calor.
Estou com insônia.
Tira a coberta e vou para a janela.
Debruço-me nela e ponho-me a captar a leve brisa.
Miro o céu.
Tantas coisas podem ser traduzidas daquelas estrelas.
O próprio Hércules lutou e conseguiu seu lugar lá.
Olha lá a Lua!
Tão sólida.
Tão brilhante.
Aquelas duas crateras não são interessantes?
Da forma em que estão, poderia jurar que são olhos.
Espera!
Sou eu ou as crateras se fecharam e abriram rapidamente?
Acho que o sono está chegando e estou bêbado.
Volto para a cama, não sem antes parar e fitá-las novamente.
Movimento algum dessa vez.
"Ei, psiu."
Abro os olhos com medo.
Por Zeus, quem estará me chamando?
Olho para o armário.
Repito "Riddikulus" várias vezes.
Volto a dormir.
"Ei, você aí fingindo que está dormindo."
Levanto e pego meu livro de cabeceira.
Não há uma pessoa que resista a uma porrada bem dada com a Ilíada.
Vasculho o quarto, mas não posso pôr meus olhos em quem me chama.
Tenho um palpite louco:
Vou olhar pela janela.
Olho para a rua.
Nada, só três gatos caminhando pomposamente.
Guardiões da noite e do outro mundo.
Ahaza, bee.
"Olha pra cima, palerma."
Medo de fazer isso.
"Oi...Lua?"
"Koé leske!"
Meu queixo vai ao chão.
"Brincadeirinha. Não precisa me chamar de Lua. Usa apelido, Emily."
Engraçado, eu conheço uma garota que se chama Emily.
Ela é incrível.
Virgem.
Adora a noite.
Prefere frio ao calor.
Uma mulher guerreira.
Consegue se virar sem precisar de um homem para controlá-la.
Adora andar com suas amigas mulheres para falar mal de homens e daquelas que se rendem a eles.
"Queridinho, hello! Você já estudou mitologia grega?"
"Já sim, por quê?"
"Essas características não o lembram alguém?"
Meus olhos se arregalam.
Caio para trás no quarto.
Não foi um simples escorregão.
Nem foi pelo susto quando percebi quem de fato era minha amiga.
Da Lua saiu um raio de luz que veio até mim e me derrubou.
Após minha visão se acostumar, percebi que não era simplesmente um raio de luz.
Era Emily!
O que é isso?
Será que confundi limonada com absinto?
"Eu, queridinho, sou Emily."
"Mas... mas... mas..."
"Por que todo homem gagueja quando me vê?"
"Você é Emily ou Ártemis?"
"Você é bobo ou bobão? Brincadeirinha, coração.
Eu sou as duas.
A verdadeira razão para eu vir é..."
Nesse momento minha mãe me acorda para me arrumar.
Tenho que ir à escola.
Que lindo!
Sonho com amigas virando deusas.
Devo finalmente ter pirado de vez.
Levanto-me e acordo para a vida.
Afinal, minha Emily está tão distante quanto Lua.
Sem problema.
Um dia eu viro astronauta e visito-a.
Olho para o resquício de Lua que ainda está no céu.
Sou eu ou as crateras se fecharam e abriram rapidamente?