domingo, 11 de julho de 2010

Estações da Vida

           Em janeiro desse ano, estava eu na varanda, iluminado somente pela luz do luar e a do laptop. Tentava desesperadamente escrever algo. Eu queria participar do ECA - RIP -, mas não podia enviar o Narciso, por não ser inédito. Depois de muitas porcarias, cheguei a este conto, Estações da Vida.
           Havia dois meses - novembro do ano passado -, eu vira o DVD do musical RENT. A música de abertura, "Seasons of Love", me comoveu especialmente. Por acaso, ou não, foi nela que achei a inspiração para essa declamação de um amor.
           Eu resolvi postar agora, pois já registrei o texto e estou particularmente decepcionado com a frequência com que posto algo aqui. Dividirei em 5 partes, uma a cada domingo.
           Chega de lenga lenga. Eis o conto...


ESTAÇÕES DA VIDA


           Quinhentos e vinte e cinco mil, seiscentos minutos. Oito mil, setecentos e sessenta horas. Trezentos e sessenta e cinco dias. Um ano. Bastante tempo, quando se vive em um mundo com uma média de vida em – o quê? – oitenta nos? Parece-me bastante tempo. Diz-se que a vida da pessoa pode mudar drasticamente em um minuto. Pode ser o primeiro e afobado beijo, a tão esperada, rápida e cansativa primeira ejaculação ao se perder a virgindade; muita coisa pode acontecer em apenas um minuto.
           Minha vida foi verdadeiramente mudada. Pode-se facilmente medir a duração dessa mudança. Não foi, porém, um minuto. Um ano. Tão intenso! Às vezes, tento parar e enumerar todos os grandes acontecimentos. Por volta de dez minutos após começar nessa aventura, sempre acabo por desistir. Afinal, provavelmente levaria outro ano inteiro. Resolvi, pois, separar esses eventos de acordo com as estações do ano às quais pertencem. Se eu tivesse que resumir em uma palavra cada estação, o verão – parte um – seria sufoco; outono, obliteração; inverno, hibernação; primavera, ressurreição; e verão – parte dois –, insurreição.
           Mas o que de fato aconteceu? Bem...
  
    VIRADA DO ANO:

           Todas as pessoas simplesmente parecem esquecer seus problemas. Todos se reúnem para as festividades. Comem, bebem, brincam, fofocam. Nada como um fim de ano para nos fazer exercitar nossas habilidades teatrais. Mandamos nossos melhores desejos a todos os nomes amigos do orkut, pomos no nosso twitter cento e quarenta caracteres de boas vibrações. Bem, todos o fizeram. Eu não.
           Eu vinha de uma recém-descoberta parceria que se revelara falsa. Estava chocado. Não podia crer que fora enganado, levado a pensar tanto de tão pouca coisa. Parecia que minha mente estava começando a gostar de pregar peças em mim.
           Quando estava chegando a hora de jogar o calendário pendurado na geladeira fora e pôr o novo, presente – grego – daquela tão – ou nem um pouco – atenciosa tia, eu implorava por aquela taça de champanhe. Talvez  fosse porque nunca ficara realmente bêbado, mas algo eu sei: eu queria afogar um ano inteiro de preocupações e arrependimentos naqueles três dedos anoréxicos de espumante. Antes disso, minha estratégia era ignorar a realidade. Agora não; agora eu queria forçá-la garganta à baixo e não pensar nela até defecá-la.
           Meia noite. O mundo pula e grita, extravasando a alegria. Talvez estejam ambos felizes por terem sobrevivido a mais uma maratona, e se preparando para a que estava por vir. Eu não gritei. Não pulei. Mal cumprimentei as pessoas. Fiz apenas o que as regras de etiqueta me obrigaram. Estava, na verdade, absorto. Mirava as figuras que o fogos criavam no céu. Círculos perfeitos, cascatas. Azuis, vermelhos, verdes. Uma profusão de imagens das mais variadas colorações me inebriava. Parecia ter-me perdido em um labirinto mental. Posteriormente, eu viria a interpretar este momento como um presságio daquele ano.

2 comentários:

Dani Scoralick disse...

Penso no que fazer quando a vida está sem suas estações. A minha parece em um inverno constante às vezes...

Muito bom, tô ansiosa pelo restante...

Raul Barros disse...

Promissor. :)